Joe Biden confirma acordo de cessar-fogo entre Líbano e Israel

por Graça Andrade Ramos - RTP
Joe Biden, Presidente dos EUA Nathan Howard - Reuters

O presidente norte-americano reagiu esta noite ao princípio de cessar-fogo acordado horas antes entre Israel e o Líbano, baseado numa proposta norte-americana. Em simultâneo foi publicado um comunicado conjunto de Joe Biden e do seu homólogo francês, Emmanuel Macron.

No texto, Biden e Macron sublinharam que o acordo irá "proteger" Israel da "ameaça" colocada pela milícia libanesa e "as outras organizações terroristas que operam a partir do Líbano".

Os dois presidentes prometeram ainda fazer tudo para reforçar as "capacidades" do exército libanês e auxiliar à recuperação da economia do país.

"Os Estados Unidos comprometem-se a desempenhar um papel de primeiro plano no apoio aos esforços desenvolvidos à escala internacional para reforçar as capacidades das Forças Armadas libanesas e favorecer o desenvolvimento económico em todo o Líbano, afim de promover a estabilidade e a prosperidade na região", acrescentaram. Ao abrigo da proposta norte-americana, aceite tanto por Beirute como por Telavive, o exército libanês será responsável pela segurança de uma faixa entre 25 e 30 quilómetros ao longo da fronteira entre os dois países. Beirute já afirmou contudo que não dispõe de meios, pessoal ou equipamento para tal missão, necessitando de apoio.

"Permanecemos determinados em evitar que este conflito se torne num outro ciclo de violência", prometeram ainda os dois líderes.

Ao comentar publicamente o acordo, através da televisão, Joe Biden considerou que as tréguas marcam assim "um novo começo" para o Líbano.

Lembrando que "Israel não começou esta guerra, o povo do Líbano não quis esta guerra", numa responsabilização direta da milícia xiita do Hezbollah, 
Biden sublinhou que o exército israelita "destruiu a infraestrutura do Hezbollah no sul" junto à fronteira com Israel, mas recordou também que "a segurança duradoura não se alcança apenas no campo de batalha".

Joe Biden admitiu também que tem vindo a enviar ajuda à região "para defender Israel e deter o nosso inimigo comum num momento crítico".

Desde o início da guerra, mais de 70.000 israelitas foram forçados a viver como refugiados, lembrou, enquanto viam as suas comunidades serem "destruídas". Mais de 300.000 civis libaneses foram igualmente forçados a tornarem-se refugiados, acrescentou.

"Este foi o conflito mais mortífero entre Israel e o Hezbollah em décadas", lamentou. Mas "a luta terá fim. Terá fim", repetiu. "Isto foi desenhado para ser uma cessação permanente das hostilidades".

"A paz é possível"

Os Estados Unidos já se comprometeram a apoiar os israelitas caso estes considerem necessário voltar a entrar no Líbano se o Hezbollah violar as tréguas ou procurar rearmar-se. As tréguas deverão iniciar-se às 04h00 locais desta quarta-feira (02H00 GMT), anunciou ainda o presidente norte-americano.  

Já esta noite, horas antes do início formal do cessar-fogo, Houve novos ataques de parte a parte.

Joe Biden afirmou que o acordo irá permitir aos civis de ambos os países regressar a casa. Com a França e os seus aliados, o presidente norte-americano prometeu fazer tudo para que o acordo seja "implementado" em pleno, mas frisou que não haverá envolvimento de tropas norte-americanas.

No remate da sua breve alocução, proferida no Jardim das Rosas na casa Branca, em Washington, e agradecendo aos líderes libanês e israelita por terem aceitado a iniciativa, Joe Biden referiu que o acordo "lembra-nos que a paz é possível".

A proposta de cessar-fogo norte-americana foi negociada com o apoio da França, antiga potência colonial do Líbano, e visa uma cessação das hostilidades entre Israel e a milícia xiita do Líbano, tendo sido aceite esta tarde pelo Gabinete de Segurança de Israel, depois de Beirute já a ter aceite. 

Foi levada depois perante o executivo liderado pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, onde recebeu luz verde com apenas um voto contra.

Netanyahu já agradeceu os esforços pela paz, tal como o primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, para quem o acordo configura um "passo fundamental para o restauro da calma e da estabilidade no Líbano que irá permitir às pessoas regerssar às suas cidades e vilas".
Tréguas difíceis
O plano, baseado na resolução da ONU 1701, de agosto de 2006, é fazer recuar as forças beligerantes, o Hezbollah para o norte e Israel para o sul, ficando as tropas libanesas e da ONU, a UNIFIL, responsáveis pela manutenção desse afastamento ao longo da fronteira israelo-libanesa. 

A primeira fase será manter as tréguas por 60 dias mas a implementação do acordo não se afigura fácil.

Ao confirmar a adoção do plano de cessar-fogo, Netanyahu explicou as suas vantagens ao povo israelita. As Forças de Defesa de Israel poderão agora não só repor os seus arsenais como, nomeadamente, concentrar-se no combate à ameaça representada pelo Irão, o Estado patrocinador não só do Hezbollah, mas também do movimento islamita palestiniano Hamas e de outros grupos islâmicos regionais que têm atacado Israel desde o ataque de dimensões sem precedentes da milícia palestiniana, a 07 de outubro de 2023.

Além de aplaudir o acordo, o primeiro-ministro libanês anunciou um reforço da presença militar do Líbano no sul do país, junto à fronteira com Israel, um sinal de boa-vontade e um eventual aviso aos combatentes xiitas ali estacionados.

Já o Hezbollah, peça chave no plano, afirmou-se aberto a um cessar-fogo, sem se comprometer, garantindo que irá continuar os seus ataques enquanto Israel prosseguir a sua ofensiva contra o Hamas, em Gaza. O movimento não reagiu imediatamente ao anúncio israelita desta terça-feira.
Cessar-fogo em Gaza
Enquanto Netanyahu prometeu "intensificar" igualmente os esforços para eliminar por completo o Hamas em Gaza, aproveitando o alívio operacional no Líbano, o presidente norte-americano prometeu em contraste "para os próximos dias" novas iniciativas para o regresso às negociações de cessar-fogo no enclave.

"O povo de Gaza tem vivido num inferno. O seu mundo foi estilhaçado", lamentou.

Após a solução encontrada para o Líbano e para os confrontos com o Hezbollah, o Hamas "tem agora a sua oportunidade", desafiou Biden, sublinhando que a condição para tal é "libertar os reféns" israelitas ainda sequestrados em Gaza há quase 14 meses.

"Nos próximos dias, os Estados Unidos vão fazer um novo esforço com a Turquia, o Egito, o Catar, Israel e outros países, para conseguir um cessar-fogo em Gaza, a libertação dos ref~ens e o fim da guerra sem o Hamas no poder", declarou Biden.

O presidente dos Estados Unidos, apesar de estar em fim de mandato, assegurou também que o seu país "se mantém preparado para concluir uma série de acordos históricos com a Arábia Saudita, que incluam o pacto de segurança e garantias económicas, a par de uma via credível para estabelecer um estado palestiniano e a pela normalização das relações entre a Arábia Saudita e Israel".

Esforços que, a serem passados à própria Administração, deverão chegar a bom porto, já que, durante a sua primeira presidência, o sucessor de Joe Biden na Casa Branca, Donald Trump, conseguiu estabelecer os Acordos de Abaraão, que normalizaram as relações entre Israel e diversas monarquias do Golfo, estendendo a cooperação a todos os campos, desde económico a científico e abrindo caminho à pacificação da área.

Uma das consequências dos Acordos de Abraão, não subscritos pela Arábia Saudita, foi o isolamento regional do Irão dos Ayatolahs, que juraram destruir Israel. Muitos analistas pensam que o atual conflito desencadeado pela invasão de Israel por parte do Hamas, se inscreve numa tentativa por parte de Teerão de voltar a isolar Israel, fazendo letra morta dos Acordos.
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